Com a recente transição de governo, a discussão sobre haver uma moeda única no Mercosul voltou a tona no Brasil.
Numa reunião com o embaixador da Argentina, Daniel Scioli, o atual ministro da fazenda, Fernando Haddad, debateu diversos assuntos pertinentes a relação comercial entre os dois países.
Conforme o argentino, uma moeda única integrando as transações dentro do Mercosul irá fortificar o bloco.
Contudo, será mesmo que essa proposta traria benefícios para a economia brasileira? Isso iria fortalecer ou enfraquecer a estabilidade econômica no país? Saiba a seguir.
O que é o Mercosul
Até os anos 1970, Brasil e Argentina tinham tensões relativas ao aproveitamento hidroelétrico, ao desenvolvimento de tecnologia nuclear e aos fluxos bilaterais de comércio.
Com o passar dos anos, essas divergências foram resolvidas e os dois países cooperaram para a construção de um programa de integração econômica.
Assim, Paraguai e Uruguai entraram na equação em 1990 e nasceu o Mercado Comum do Sul, mais conhecido como o Mercosul.
O objetivo era aumentar a oferta de emprego e renda, melhorar a produtividade e intensificar as relações econômicas entre os países.
O Mercado Comum do Sul foi fundado em 26 de março de 1991, com a assinatura do Tratado de Assunção pelos governos de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
Dessa forma, hoje em dia é formado por 10 países, entre membros plenos e associados, conforme tabela abaixo:
Membros plenos |
---|
Brasil |
Argentina |
Venezuela (suspensa) |
Uruguai |
Paraguai |
Membros Associados |
Chile |
Bolívia |
Peru |
Equador |
Colômbia |
Guiana |
Suriname |
Economia mais forte do Mercosul
Não é segredo que o Brasil tem a economia mais relevante entre os países do Mercosul – Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela — atualmente suspensa.
Em pesquisa mais recente, entre os três maiores, o Brasil ocupa o primeiro lugar com um PIB de U$ 1,6 trilhões, a Argentina vem em segundo com U$ 487 bilhões e em terceiro o Uruguai, com U$ 59 bilhões.
Visto isso, o país que mais seguraria toda a carga de uma política de moeda única seria obviamente o Brasil.
Isso significa que todo problema inflacionário ou cenários de incerteza econômica dos outros países também teriam um impacto grande em todos os outros, principalmente no nosso.
moeda única
Certo, já temos uma noção que esse tipo de política pode não ser benéfica para nós brasileiros. Mas afinal, o que exatamente é uma Moeda Única?
O exemplo mais claro e clássico é o Euro, criado em 1998 numa sessão noturna em Bruxelas (Bélgica) e lançado em janeiro de 1999 como a moeda única da União Europeia.
A mundialmente conhecida União Europeia (UE), é o bloco econômico mais relevante do planeta.
Composto por 28 países – entre eles os principais: Alemanha, França, Itália e o Reino Unido – esse bloco movimenta cerca de U$ 13 trilhões todos os anos.
O pacto entre essas nações incluiu, por exemplo, a livre circulação de pessoas entre os países que fazem parte do bloco.
Contudo, sua criação teve como objetivo principal facilitar as transações comerciais dentro do bloco econômico (UE). Para isso, foi instituído o Euro.
Por que não daria certo no Mercosul?
Mas, por que isso não funcionaria no Mercosul? Pelo simples fato das economias latino-americanas não serem tão fortes quanto as europeias são.
É um fato triste mas verdadeiro. Comparando os PIBs dos três países mais importantes dos dois blocos, as diferenças são bem significativas.
Como já dito acima, os PIBs dos maiores do Mercosul são, respectivamente, U$ 1,6 trilhões (Brasil), U$ 487 bilhões (Argentina) e U$ 59 bilhões (Uruguai).
Nesse sentido, quando vamos para a União Europeia a coisa muda totalmente de figura.
Em primeiro lugar está a Alemanha com U$ 4,26 trilhões, em segundo a França com U$ 2,95 trilhões e ocupando o terceiro lugar vem a Itália, com U$ 2,1 trilhões.
Somente somando esses três, o total é de U$ 9,31 trilhões, três vezes o valor do PIB atual do Mercosul.
Além disso, como podemos perceber, a força econômica entre eles é equilibrada, podendo segurar uma possível crise no bloco, diferente do Mercosul.
Todavia, a falta de êxito não vem somente por esse motivo. Além da organização da UE ser superior, a estabilidade econômica deles em comparação com a dos países do Mercosul também é inegável.
a real proposta
Conforme Haddad, a verdadeira intenção em relação a essa proposta de moeda única é exclusivamente quando se trata de transações comerciais entre os países do Mercosul.
Ou seja, diferentemente da União Europeia, essa moeda não afetaria a moeda local de cada país, não sendo usada entre a população.
Em outras palavras, essa moeda seria como uma referência pra facilitar a transações financeiras entre os membros do bloco sul-americano.
Dessa forma, pode se entender que o grande interesse da Argentina nessa medida é conseguir importar com menos custos e sem gastar das suas reservas de dólares.
Argentina x Brasil
Como o bloco foi fundado por esses dois países, é comum que eles sejam os principais no momento de decidir qualquer coisa sobre o futuro do Mercosul.
Diante disso, neste mês de janeiro, o embaixador da argentina no Brasil, Daniel Scioli – já citado acima – esteve falando sobre a criação dessa moeda única do Mercosul.
Nas palavras dele: ” O Brasil é o parceiro número um da Argentina, e, num contexto de crise da globalização, vamos fortalecer nossa região e nossa complementação.”
E ainda afirmou: “Haddad é um economista com uma visão muito produtivista, que tem um compromisso real com o grande objetivo da moeda comum”.
Todavia, o ministro da fazenda, Fernando Haddad não se mostrou satisfeito com essa declaração e ainda afirmou para um jornalista que a proposta não existia.
Ou seja, além de desautorizar o embaixador, Haddad ainda se irritou com o jornalista ao dizer: “Vá se informar primeiro”.
Entretanto, segundo a CNN Brasil, o ministro enviou um pedido de desculpas para o profissional algum tempo depois, destacando um possível mal entendido.
Em fim, como conclusão, se formos olhar para a situação atual da Argentina, com a inflação beirando os 100%, fica difícil não associar este discurso do embaixador a uma possível “conveniência” ao sugerir tal medida.