A empresa brasileira de entregas de refeições, Ifood, retirou centenas de funcionários da sua folha de pagamento no início desse mês de março.
Esses desligamentos são equivalentes a 6,3% da força de trabalho total da organização, que demitiu 355 pessoas.
Em resposta a questionamentos a respeito, o Ifood alegou que as mudanças no cenário econômico mundial afetaram drasticamente a organização e exigiu decisões radicais.
Um exemplo desse impacto foi a perda do contrato exclusivo que a empresa tinha com gigantes do ramo alimentício, como o McDonald’s, Habib’s e Outback.
Todavia, o Ifood não é o único a estar recorrendo a demissões em massa para tentar segurar as pontas.
Nesse sentido, somente nesse ano, empresas como a Meta, Microsoft, Google, Netflix e Amazon também anunciaram milhares de desligamentos.
Visto isso, veja a seguir uma análise sobre os possíveis motivos para essas companhias estarem tomando tal medida drástica.
Incertezas na economia mundial
Após o fim da pandemia da Covid-19, esperava-se que a economia mundial voltasse a se estabilizar. Todavia, não foi o que aconteceu.
Em 24 de fevereiro de 2022 a Rússia invadiu a Ucrânia e novamente nos vimos num panorama de incertezas econômicas.
Isso por que a reação dos outros países a esse conflito desencadeou sanções para a Rússia, o que estremeceu consideravelmente as relações geopolíticas ao redor do planeta.
Em resposta a tanto estresse econômico, a inflação mundial alcançou patamares não vistos a décadas, obrigando os Bancos Centrais a elevarem a taxa básica de juros da economia de suas nações.
Como consequência disso, o preço dos combustíveis e dos alimentos subiram a níveis estratosféricos e interromperam cadeias de abastecimento, freando a recuperação global.
Para piorar um pouco mais, a recessão iminente é somente um dos problemas que a economia mundial enfrentará em 2023, haja vista que o fim da política da Covid-zero na China e a crise energética também serão uma grande pedra no sapato esse ano.
Impactos do fim da “Covid-zero” na China
É de conhecimento geral que a pandemia do Covid-19 trouxe impactos diversos a todas as regiões do mundo.
Dessa forma, a crise sanitária – que durou três anos – causou danos imensuráveis a saúde, a sociedade e a economia de centenas de países.
Afim de mitigar esses efeitos e reduzir o número de mortes pela doença, a China instituiu uma rigorosa política de prevenção em seu território, a Covid-zero.
Desde que a doença se alastrou no país asiático no final de 2019, o governo se concentrou em manter uma dinâmica de contenção ao avanço dos casos, com o objetivo de chegar o mais próximo possível de zero.
Entretanto, em novembro de 2022, os chineses anunciaram o fim da Covid-zero, o que, em perspectiva de curto prazo, não se mostrou muito otimista.
Isso por que a decisão repentina sobrecarregou o sistema de saúde da China em meio a um novo surto do vírus em janeiro desse ano.
Nesse sentido, essa situação pode trazer perturbações para a economia chinesa, que é a segunda maior do mundo, perdendo somente para a americana.
Assim, a economia mundial sofrerá ainda mais em sua frágil recuperação, além de também existirem riscos de uma outra cepa do vírus surgir e se espalhar pelo planeta novamente.
Contudo, como dito anteriormente, a perspectiva é de curto prazo. A longo prazo, a expectativa é que a recuperação econômica da China após a reabertura seja satisfatória.
Crise energética
Conforme o professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Carlos Gustavo Poggio, estamos vivendo a pior crise energética desde 1975.
De acordo com o especialista, as justificativas disso são multifatoriais, uma vez que envolvem coisas como a recente crise sanitária e a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Dessa forma, dando um enfoque maior para a guerra, grande parte do mundo está sofrendo consequências do conflito, em especial a Europa.
Isso por que vários países desse continente são dependentes do gás natural russo, em especial a maior economia da União Europeia, a Alemanha.
Dessa forma, por causa das sanções comerciais impostas á Rússia pelas nações ocidentais em detrimento da guerra, essa grande dependência foi usada pelos russos como retaliação.
Ou seja, em resposta às punições, a Rússia começou a exportar cada vez menos esse recurso para os europeus, até pararem de vez em setembro de 2022.
Com isso, os preços de praticamente todo tipo de produto aumentaram significativamente na Europa, principalmente o valor da conta de luz.
Cenário esse que desencadeou uma onda de protestos em alguns países do continente, que se viu numa crise tão grande que até mesmo empresas de produtos básicos, como papel higiênico, estavam fechando as portas.
Vindo para o Brasil, a crise energética oriunda do gás natural russo provavelmente respinga aqui não por causa do combustível em si, mas sim por causar queda nas exportações.
Isso por que o Brasil possui um dos maiores volumes hídricos do mundo, tendo a capacidade de ser autossuficiente em energia, com as hidroelétricas.
Contudo, boa parte da nossa economia é ligada às transações comerciais feitas com os europeus.
Nesse sentido, se somarmos todos os negócios que fazemos com os países da zona do Euro, temos mais ligação econômica com eles que com os EUA, por exemplo.
Conclusão
Após a leitura desse artigo, é de se pensar que a economia mundial definitivamente está vivendo um momento complicado.
Tudo se torna um efeito dominó, uma vez que quando as consequências da aparente recessão e da crise energética atingem a economia das grandes nações, os países que dependem delas sofrem por tabela.
Cada uma das empresas de tecnologia citadas acima teve seus motivos particulares para optarem pelos desligamentos, porém um deles é comum a todas elas: cenário global menos favorável.
O Ifood não escapa desse fato, já que grandes crises falem instituições ou as fazem reduzir drasticamente custos, ao demitirem funcionários, encerrarem parcerias ou romperem grandes contratos.
Da mesma forma, no micro, ao se verem em dificuldades financeiras, as pessoas dão menos atenção a serviços “supérfluos” e passam a priorizar o essencial, fato que também influi nas demandas empresariais.