Desligamentos no Ifood: por que as empresas estão demitindo tanto?

Ifood demite 355 funcionários e alega problemas financeiros decorrentes das mudanças no cenário econômico mundial. Saiba mais!

A empresa brasileira de entregas de refeições, Ifood, retirou centenas de funcionários da sua folha de pagamento no início desse mês de março.

Esses desligamentos são equivalentes a 6,3% da força de trabalho total da organização, que demitiu 355 pessoas.

Em resposta a questionamentos a respeito, o Ifood alegou que as mudanças no cenário econômico mundial afetaram drasticamente a organização e exigiu decisões radicais.

Entregador de Ifood, com uma seta  vermelha apontando para baixo.
Ifood dispensa mais de 300 funcionário e diz que a empresa está passando por um período difícil. Saiba mais!

Um exemplo desse impacto foi a perda do contrato exclusivo que a empresa tinha com gigantes do ramo alimentício, como o McDonald’s, Habib’s e Outback.

Todavia, o Ifood não é o único a estar recorrendo a demissões em massa para tentar segurar as pontas.

Nesse sentido, somente nesse ano, empresas como a Meta, Microsoft, Google, Netflix e Amazon também anunciaram milhares de desligamentos.

Visto isso, veja a seguir uma análise sobre os possíveis motivos para essas companhias estarem tomando tal medida drástica.

Incertezas na economia mundial

Após o fim da pandemia da Covid-19, esperava-se que a economia mundial voltasse a se estabilizar. Todavia, não foi o que aconteceu.

Em 24 de fevereiro de 2022 a Rússia invadiu a Ucrânia e novamente nos vimos num panorama de incertezas econômicas.

Guerra da Ucrânia, com duas pessoas andando num cenário devastado.
A guerra entre Rússia e Ucrânia desestabilizou diversos setores da economia ao redor do mundo.

Isso por que a reação dos outros países a esse conflito desencadeou sanções para a Rússia, o que estremeceu consideravelmente as relações geopolíticas ao redor do planeta.

Em resposta a tanto estresse econômico, a inflação mundial alcançou patamares não vistos a décadas, obrigando os Bancos Centrais a elevarem a taxa básica de juros da economia de suas nações.

Homem olhando números na bolsa de valores, com imagens do coronavírus espalhadas em tela.
A quarentena da Covid-19 durou tempo suficiente para abalar o comércio mundial e causar grandes impactos no mercado de trabalho.

Como consequência disso, o preço dos combustíveis e dos alimentos subiram a níveis estratosféricos e interromperam cadeias de abastecimento, freando a recuperação global.

Para piorar um pouco mais, a recessão iminente é somente um dos problemas que a economia mundial enfrentará em 2023, haja vista que o fim da política da Covid-zero na China e a crise energética também serão uma grande pedra no sapato esse ano.

Impactos do fim da “Covid-zero” na China

É de conhecimento geral que a pandemia do Covid-19 trouxe impactos diversos a todas as regiões do mundo.

Dessa forma, a crise sanitária – que durou três anos – causou danos imensuráveis a saúde, a sociedade e a economia de centenas de países.

Afim de mitigar esses efeitos e reduzir o número de mortes pela doença, a China instituiu uma rigorosa política de prevenção em seu território, a Covid-zero.

Mulher chinesa com máscara protetora da Covid-19.
A China suspendeu a política da Covid-zero, o que colapsou o sistema de saúde da segunda maior economia do mundo.

Desde que a doença se alastrou no país asiático no final de 2019, o governo se concentrou em manter uma dinâmica de contenção ao avanço dos casos, com o objetivo de chegar o mais próximo possível de zero.

Entretanto, em novembro de 2022, os chineses anunciaram o fim da Covid-zero, o que, em perspectiva de curto prazo, não se mostrou muito otimista.

Isso por que a decisão repentina sobrecarregou o sistema de saúde da China em meio a um novo surto do vírus em janeiro desse ano.

Ficha de hospital escrito "Covid China" com um estetoscópio em cima.
No intuito de reduzir as mortes pela doença, a China instituiu a Covid-zero. Contudo, a medida foi suspensa ano passado. Veja a seguir.

Nesse sentido, essa situação pode trazer perturbações para a economia chinesa, que é a segunda maior do mundo, perdendo somente para a americana.

Assim, a economia mundial sofrerá ainda mais em sua frágil recuperação, além de também existirem riscos de uma outra cepa do vírus surgir e se espalhar pelo planeta novamente.

Contudo, como dito anteriormente, a perspectiva é de curto prazo. A longo prazo, a expectativa é que a recuperação econômica da China após a reabertura seja satisfatória.

Crise energética

Conforme o professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Carlos Gustavo Poggio, estamos vivendo a pior crise energética desde 1975.

De acordo com o especialista, as justificativas disso são multifatoriais, uma vez que envolvem coisas como a recente crise sanitária e a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Dessa forma, dando um enfoque maior para a guerra, grande parte do mundo está sofrendo consequências do conflito, em especial a Europa.

Usina russa de gás natural.
A crise energética atingiu fortemente a Europa. Saiba como a guerra da Ucrânia influenciou nessa crise e quais os efeitos dela nas demissões do Ifood.

Isso por que vários países desse continente são dependentes do gás natural russo, em especial a maior economia da União Europeia, a Alemanha.

Dessa forma, por causa das sanções comerciais impostas á Rússia pelas nações ocidentais em detrimento da guerra, essa grande dependência foi usada pelos russos como retaliação.

Ou seja, em resposta às punições, a Rússia começou a exportar cada vez menos esse recurso para os europeus, até pararem de vez em setembro de 2022.

Usina de gás natural
Com a crise energética os preços se elevaram em todo o continente europeu e ao redor do mundo também.

Com isso, os preços de praticamente todo tipo de produto aumentaram significativamente na Europa, principalmente o valor da conta de luz.

Cenário esse que desencadeou uma onda de protestos em alguns países do continente, que se viu numa crise tão grande que até mesmo empresas de produtos básicos, como papel higiênico, estavam fechando as portas.

Vindo para o Brasil, a crise energética oriunda do gás natural russo provavelmente respinga aqui não por causa do combustível em si, mas sim por causar queda nas exportações.

pessoa mostrando sua carteira vazia, com gráficos econômicos pessimistas, uma das causas das demissões no Ifood.
A junção da crise energética, o pós Covid e as incertezas sobre a economia mundial estão ocasionando demissões em massa em vários seguimentos, incluindo em empresas como o Ifood.

Isso por que o Brasil possui um dos maiores volumes hídricos do mundo, tendo a capacidade de ser autossuficiente em energia, com as hidroelétricas.

Contudo, boa parte da nossa economia é ligada às transações comerciais feitas com os europeus.

Nesse sentido, se somarmos todos os negócios que fazemos com os países da zona do Euro, temos mais ligação econômica com eles que com os EUA, por exemplo.

Conclusão

Após a leitura desse artigo, é de se pensar que a economia mundial definitivamente está vivendo um momento complicado.

Tudo se torna um efeito dominó, uma vez que quando as consequências da aparente recessão e da crise energética atingem a economia das grandes nações, os países que dependem delas sofrem por tabela.

Cada uma das empresas de tecnologia citadas acima teve seus motivos particulares para optarem pelos desligamentos, porém um deles é comum a todas elas: cenário global menos favorável.

Homem atravessando uma porta, com várias portas ao redor.
Veja quais são os principais motivos de tantas demissões em massa acontecendo recentemente.

O Ifood não escapa desse fato, já que grandes crises falem instituições ou as fazem reduzir drasticamente custos, ao demitirem funcionários, encerrarem parcerias ou romperem grandes contratos.

Da mesma forma, no micro, ao se verem em dificuldades financeiras, as pessoas dão menos atenção a serviços “supérfluos” e passam a priorizar o essencial, fato que também influi nas demandas empresariais.